Changemaker, Paulina Braun, criadora do Dancing Międzypokoleniowy [dança intergeracional]. Há muito anos ela está envolvida em atividades sociais e artísticas. Neste momento, totalmente engajada na ideia de integração intergeracional.
Autores: Anna Książek, Andrea Pucci
Tradução: Renzo Rocha
Eu pensei que seria uma reunião simples com Paulina. O que eu encontrei excedeu todas as minhas expectativas. Quinze idosos, conversando, dançando, cheios de vida, elegância e entusiasmo indescritível.
- Bem-vinda, bem-vindo.
- Senhora, vamos tirar uma foto juntos!
- Wiesia, onde está o açúcar para o café?
- Vamos dançar, sim, lalalá lalá.
- Eles querem ouvir sobre Paulina, deixe-os se sentar, sejam bem-vindos.
Eu nunca experimentei algo assim. Tendo em mente meus avós, tive uma visão diferente dos idosos. É um momento de acumular doenças, temendo o mal do mundo e as pessoas más ao redor. Sentados em casa, esperando a última cortina cair. E aqui há vida. Alegria. Um ar de otimismo difícil de encontrar, mesmo entre os jovens. E no meio disso, Paulina. Jeans rasgados, energia incontrolável. Firme e gentil ao mesmo tempo. Ela é a chefe, mas também se preocupa com todos aqui. Ela provoca a ação e ainda deixa espaço para os outros.
- Sentem-se todos, eles têm apenas uma hora para ouvir. Deixe Paulina falar.
Durante anos fui responsável por projetos sociais, arte - diz Paulina Braun - fiz projetos para pessoas diferentes: jovens, idosos, sem-teto, em lugares diferentes. Tudo, no entanto, idealmente se misturou no UFO. Eu estava no lugar certo, na hora certa. Eu tinha um grupo de idosos. Vou lhe contar uma coisa que ainda não contei a ninguém, além de alguns amigos. Planejamos com os idosos fazer grafite, mas não conseguimos dinheiro suficiente. Tivemos que desistir. E naquele momento, o UFO me pediu para animar este lugar. Foi exatamente há quatro anos. Uma arquitetura temporária foi estabelecida em um famoso cruzamento de Varsóvia, espaço aberto, apenas para férias. Era difícil para os idosos, o local parecia estranho. Eles preferiram evitar. E eu queria convidá-los para que pudessem sentir que também é deles. Eu animei esse lugar, fiz piqueniques, reuniões de bairro. E dançando. Após o projeto de graffiti, eu já estava em contato com vários idosos. Eu estava procurando por DJs seniores. As primeiras tentativas não tiveram êxito, mas no final me deparei com uma entrevista com a DJ Vika. Até aquele momento, ela só havia tocado em festas para idosos, era o começo de sua carreira. Cheguei a ela e a convidei a cooperar. Organizamos o evento, que foi um grande sucesso. DJ Vika foi incrível. Convidei também um DJ bem mais jovem. Houve integração real. Eu sou festeira, mas nunca gostei dessas divisões: mais jovem com a mais nova, mais velha com a mais velha, pobre com a pobre... É de alguma forma natural, mas se pessoas de diferentes origens se reúnem, isso dá energia, permite quebrar barreiras. Dançar provocou essa situação. Vi o que aconteceu com os jovens, eles ficaram chocados. Pessoas mais velhas com um sorriso no rosto? Dançando? O que eles estão fazendo aqui? Lembro-me de uma cena, as meninas tiraram fotos com o telefone, energia positiva, alegria. Mas também choque. Naquele momento, comecei a pensar que seria legal se eles reagissem positivamente, mas sem surpresa.
Os primeiros contatos com idosos foram bastante espontâneos. Aluguei um apartamento em Varsóvia e decidi organizar um jantar para meus vizinhos. Fui a todos, sugeri dia e hora e pedi que trouxessem algo para comer ou beber para que pudéssemos passar algum tempo juntos e nos conhecermos. Pessoas de todas as idades vieram, conversamos. E a partir desse momento nossa vida ficou muito melhor. Um evento como um simples jantar abre uma enorme variedade de possibilidades. As pessoas começam a conversar e muitas coisas aparecem. Elas começam a se ajudar. Elas tornam-se amigas. É assim que eu trabalho - faço as pessoas se conhecerem e lhes dou algo em comum, algo que as une. Um tema comum, um espaço. E se você oferecer isso às pessoas, os resultados serão surpreendentes. E é assim também que o Dancing funciona. Eu apenas começo o tópico, organizo alguma coisa. Mas o resto do trabalho é feito por aqueles que acreditam nele. Alguém vê que faz sentido e convence outros. Leva tempo, às vezes até meio ano, para dançar. É essa pessoa que convence o novato, não eu. Então, há uma mudança real, a ideia está se espalhando. Mas começamos com coisas simples. Um jantar. Então conversamos, compartilhamos problemas. Com Henryk, um veterano do nosso prédio, nos tornamos amigos à primeira vista. Ele costuma aparecer, emprestar filmes, me ajudar com projetos, encontrar meus amigos.
Eu penso nos meus vizinhos. Eu não conheço ninguém. Não vamos além de um "bom dia" enfadonho. E dos idosos estou ainda mais longe. Por que é assim? Onde eu aprendi isso? Sinto tanta desconfiança, até medo, o que me impede de abordar espontaneamente as pessoas na rua.
É natural para você? - perguntei - você não tem nenhum problema em abordar as pessoas? Idosos, patrocinadores, sem-teto... não tem medo?
Não, não tenho problemas com isso. Desde que me lembro, apenas me aproximo de alguém e começo a conversar. Mas acho que muitas pessoas têm essa inibição como consequência do sistema em que vivemos. Nós vamos a jardins de infância, escolas e lá temos nosso grupo. Apartamento fechado. Ficamos presos em nossas comunidades e com o tempo perdemos a necessidade de olhar ao redor. Nossa curiosidade para com os outros desaparece. Quanto mais rígida, mais se torna normal, mais barreiras são criadas. As pessoas se isolam em seus grupos. E precisamos do Dancing ou de outras iniciativas para mudar isso. E então, as pessoas sentem que eu as trato como parceiras. Magdalena vem tomar uma xícara de café, Eryk telefona e ele quer parar para conversar. Do jeito que eu falo com os idosos, eu apresento as coisas... eles sabem que sou amiga deles, uma “mana”.
É tão difícil de imaginar. Minha avó sendo minha “mana”? Mas eu vi aquelas pessoas. Senti sua autenticidade, felicidade e crença em uma vida diferente. Entusiasmo, o qual esconde a pergunta óbvia... mas que aparece imediatamente após fecharmos a porta.
Paulina, eles estão morrendo.
Sim ... acho que isso é ... bem, infelizmente tenho que chorar um pouco quando digo essas estórias ... mas é importante. Você sabe, se alguém não pensa sobre isso, não vai mais fundo, não percebe. As pessoas olham para as fotos e dizem que é uma festa legal. Pessoas, energia, aquelas coisas que você pode ver de fora. Mas, enquanto isso há funerais. Existem doenças difíceis, histórias difíceis. Está tudo entrelaçado, como na vida.
Essa parte da conversa aconteceu sem eles. Várias semanas após a reunião com os idosos, proponho a Paulina conhecer apenas nós dois. Nos conhecemos em um bar que colabora com o Dancing, oferecendo descontos e jantares gratuitos. Paulina chegou atrasada, fugindo de um treinamento de barman para idosos. Em alguns dias, eles vão abrir um clube provisório. Provisório... mas os planos e sonhos voam muito mais alto.
Trabalhamos há alguns anos e ainda não temos uma estrutura. Agora acho que vamos começar o negócio. Há quatro anos, eu nem podia sonhar que Dancing poderia se transformar em um negócio que, além disso, pode fazer algo de bom para as pessoas...
Estamos trabalhando em várias direções. A primeira são os eventos, a dança intergeracional. Hoje organizamos festas bacanas em Varsóvia. Em breve abriremos uma filial em Trójmiasto (região metropolitana de Gdansk). Meu sonho é ter filiais em diferentes cidades e no futuro em outros países. Mas, para fazer isso, precisamos de uma estrutura. Eu foco e trabalho neste projeto agora, mas estou pensando além. A segunda coisa é a academia de DJ sênior. Não apenas uma oficina, mas uma academia séria que ofereça novos empregos para aposentados que podem aprender uma maneira interessante de ganhar algum dinheiro extra, desenvolver uma paixão, viajar, conhecer novas pessoas. Esta é uma proposta totalmente nova. Dá muita energia, fluxo. Finalmente, a agência de elenco, que também já está em desenvolvimento. É dividido em 3 seções: primeiro - idosos; segunda - minorias nacionais, que são uma parte importante da dança; terceiro - locações, casas de idosos que possam ser contratadas para produções de filmes.
A dança intergeracional está se tornando uma marca reconhecida. Depois de quatro, nem sempre fáceis, anos.
Você sabe, me incomoda que demore tanto tempo. Temos que esperar por tudo, lutar. Quando me encontro com possíveis patrocinadores, parceiros e lhes digo como trabalho, sem funcionários, sem salário, eles não acreditam em mim. Dizem que a Dancing já é uma marca e não esperavam que eu fizesse desse jeito, tinham certeza de que tenho meu escritório e meu salário normal.
O que faz você trabalhar apesar de tudo?
Vejo que posso fazer a diferença, que isso funciona. Isso realmente muda alguma coisa, as pessoas começam a viver novamente.
É meia-noite. É hora de dizer adeus. Provavelmente nos encontraremos novamente, haverá muitas chances de falar.
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